O ANTROPOCÉNICO

O termo Antropocénico, que foi cunhado por Eugene Stoermer na década de 1980, foi popularizado pelo próprio e por Paul Crutzen em 2000, tornando-se, de acordo com as tendências do Google, uma buzzword em meados de 2011. O Antropocénico é uma nova unidade de tempo geológico (ainda não oficial) caracterizada pelo crescente impacto da atividade humana no clima e nos ecossistemas do planeta. Contudo, antes do termo Antropocénico ter iniciado a sua marcha imparável de popularidade, Bill McKibben, no seu livro The End of Nature (1989), havia já alertado para o facto dos seres humanos se terem tornado na “fonte mais poderosa de mudança no planeta”, explorando as possíveis implicações éticas desta relação desequilibrada. Também os historiadores e filósofos — a École des Annales (Bloch, Febvre e Braudel), Kranzberg e Pursell, Benjamin, Schatzki, o debate dos anos 1960 sobre a divisão cultura-natureza e estudos mais recentes — vinham discutindo há quase um século as relações complexas e por vezes indiscerníveis entre natureza, tecnologia e seres humanos.

Apesar de não identificar uma nova realidade, a discussão sobre o significado e a utilidade do conceito de Antropocénico desencadeou um debate, ainda hoje muito vivo, sobre o seu interesse para várias disciplinas. Devemos interrogar-nos porquê.

Em termos da comunicação social e do público em geral, é claro que os fenómenos climáticos extremos, o aumento global da temperatura, o derreter do gelo polar , a acidificação dos oceanos, as ilhas de plásticos, a perda de biodiversidade e a inteligência artificial estão no centro de um interesse generalizado pelo Antropocénico, que se apresenta como um tempo em que a pressão humana sem precedentes sobre os recursos transformou as condições relativamente estáveis do Holocénico num mundo de profundos desequilíbrios resultantes do impacto humano na geologia e na ecologia da Terra.

Para o mundo académico, o conceito de Antropocénico criou um muito necessário espaço para repensar de forma transdisciplinar a história das relações entre a humanidade e o ambiente a partir de um caleidoscópio de perspectivas que vão da ciência à arte, das humanidades à engenharia, da política à economia, das discussões académicas às acções no terreno de ativistas. As epistemologias, os aparelhos conceptuais e metodológico, os temas e as controvérsias englobadas neste conceito cobrem um imenso território que está ainda por explorar.